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sábado, 24 de outubro de 2015

Teus Olhos Entristecem - Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"



Teus olhos entristecem
nem ouves o que eu digo.

Dormem, sonham esquecem...

Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,

te disse tanta vez...

Ceio que nunca o ouviste
de tão tua que és.
Olhas-me de repente

de um distante impreciso


com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo


o que estás a pensar,
já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
sumir de tarde fútil,

se esfolha silencioso

o teu sorriso inútil.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

domingo, 11 de outubro de 2015

Mia Couto



“Eu nasci para estar calado. 

Minha única vocação é o silêncio. 

Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para 

não falar, um talento para apurar silêncios. 

Escrevo bem, silêncios, no plural. 

Sim, porque não há um único silêncio.

 E todo o silêncio é música em estado de gravidez."

Mia Couto

Cecília Meireles





Numa noite de lua escreverei palavras,

simples palavras tão certas

que hão de voar para longe, com as asas súbitas,

e pousar nessas torres das mudas vidas inquietas.


O luar que esteve nos meus olhos, uma noite,

nascera de novo no mundo.

Outra vez brilhará, livre de nuvens e telhados

livre de pálpebras, e num país sem muros.


Por esse luar formado em minhas mãos, e eterno,

é doce caminhar, viver o que se vive.

Porque a noite é tão grande… Ah,quem faz tanta noite?

E estar próximo é tão impossível


Cecília Meireles

sábado, 10 de outubro de 2015

Gi Stadnicki




Não te envergonhes do tempo...
Como o vento esculpe a pedra,
e...aguça nossa imaginação
ao tentar adivinhar as intenções do artista...
assim o tempo, faz em nós.
Não desfigura,
não desvaloriza,
não faz mal...
faz arte.
Apagar as rugas?
Não sei não...
assim parece que nos roubam uma preciosa jóia...
nos negando o prazer de exibi-la...
o querer cada ensinamento da vida bem visível.
Não nos será um direito?
Ao contrário das superficialidades, que nada acrescentam,
essas impressões na pele geram um brilho,
um frescor que jamais tivemos antes,
nos áureos dias dos poucos anos...
uma postura mais segura...
um ar reflexivo...
uma novidade do ser pensada e repensada...tranquila,
já sem pressas,
que parece fazer bem.
Parece ter algo importante a dizer...
Queira Deus que tenha...senão...nada importa.
E interessante seria ouvir.
Principalmente porque exprimem fora,
o que desabrochou dentro...
e que seja belo!
Não é um murchar da doce e tenra rosa.
É uma categoria nova...
um evoluir da macia pétala...
Algo que dribla o óbvio.
E ressurge diferente...
É um jeito novo de ser mulher.
Muito mulher!
Jeito corajoso.
Jeito revolucionário.
Beleza sem tempo.
Beleza forte.
Inesquecível...
Há algo frágil no fugir da realidade...algo desconcertado dentro.
Que salta fora em repuxos delirantes.
Mansidão mulher...equilíbrio...
Grande cosmético!
Quantos anos tem uma mulher que se aceita?
Que se gosta?
Meu Deus...
creio que tem a idade das estrelas...
de tudo que eternamente encanta.

Gi Stadnicki

MILTON NASCIMENTO - Canção Meu Menino






"Se um dia você for embora

Não pense em mim

Que eu não te quero meu

Eu te quero seu

Se um dia você for embora

Vá lentamente como a noite

Que amanhece sem que

A gente saiba

Exatamente

Como aconteceu"



Milton Nascimento

LUISA VERÍSSIMO




Hoje soltei os pássaros

fechei a porta da gaiola

e voei com eles.

Fui-me embora!

(Luisa Veríssimo)

Manuel Bandeira




“Eu gosto de delicadeza.

Seja nos gestos, nas palavras, nas ações,

no jeito de olhar, no dia-a-dia

e até no que não é dito com palavras,

mas fica no ar...”


Manoel Bandeira